Saudade


Não precisava que fosse muito gelada, a cerveja. Só precisava que fosse cerveja. Até mesmo ela meio quente, assim, daquele tipo que quando a gente bebe faz cara feia, eu tomaria. E nem precisava o clima estar frio. Podia, inclusive, estar fazendo esse calor infernal que tem feito todos os dias desde que você se foi. Também não tinha que ser nessas baladas cults, nem nesses cafés gourmets pseudo-intelectuais.

Podia ser no risca-faca aqui do lado de casa. Aquele onde eu mesma já comprei inúmeras "últimas latinhas". Não teria problema ser durante a semana. É certo que, você sabe, eu prefiro sair aos sábados, mas não me importaria que fosse numa terça, ou numa quinta-feira.

Também não ligaria se fosse no fim do mês e eu estivesse com pouco dinheiro. Quero dizer, existe crédito pra esse tipo de coisa, não? Esse tipo de emergência. Tudo bem, também, se você levasse alguém e quase não me desse atenção. A cerveja quente e o sertanejo me fariam companhia. Ver você sorrir me faria bem.

Eu não faria questão de que você me deixasse em casa, como sempre fazia, se nesse dia você decidisse dormir na casa desse alguém. Eu pegaria um táxi. Passaria no crédito. Hoje em dia, todo mundo aceita cartão. Sabe, né.

Fosse depois do trabalho, fizesse chuva, estragasse minha sandália, furasse meu pé, vencesse meu desodorante, qual fosse a condição, eu não ligaria. Não precisaria de muito. Só precisaria que fosse com você.