O Sítio do Tio Betiho

foto: Juane Vaillant
O sítio é a lembrança – ou pelo menos uma das – mais fortes da minha infância. Lembro de acordar com um salto toda vez que sabia que vinha.
Mentalmente eu repassava tudo que ia fazer: Ir na piscina
Subir na árvore
Fazer casinha
Ir na nascente
Fazer fogueira
Jogar adedonha
Pegar fruta.
Eu conheço cada pedaço dessa terra. Os pés de manga, as rachaduras na piscina, as gambiarras da casa e as elevações na pedra. Reconheço a estrada que leva até a porteira, tão bem como a rua da minha casa ou o “Beco da Fome”, do centro de Guarapari.
Por entre esses galhos e folhas secas, eu ouvi e contei segredos. Naquela piscina, aprendi a nadar e comecei tantas amizades. Quantos clubes de um dia eu não formei naquelas casinhas na árvore? Quantos grupos diferentes de amigos eu não trouxe aqui. E muitos ainda pretendo trazer.
Hoje as atividades de infância são raras, e por vezes até reluto vir. Mas é certo que toda vez que chego, parece um retorno para casa. Como aquele forasteiro que ganhou o mundo para descobrir que ama a sua cidade natal.
Certa vez eu escrevi em um diário coisas daqui para não esquecer. Falei do beliche, da pedra, do Pretinho e da Susi. Do laguinho e da piscina, do fogão a lenha e do banco azul. O diário eu perdi, ao contrário dessas memórias.
Quem sabe um dia eu realize
O sonho clichê de todo escritor
E tenha para mim um sítio desses.
Para criar nos meus filhos
memórias como essas.