Aquele frio na barriga




Tenho 25 anos e já presenciei três ameaças de fim do mundo. Isso que eu me lembre. Pois é. Todas elas acontecem na passagem de ano. As pessoas ficam apreensivas. Não acreditam, mas também não desacreditam. Fica aquela áurea depois do Natal. E dura até a passagem. Como se essa última semana, fosse sua chance de se redimir pelo ano todo. Repensar sua vida, perdoar as pessoas em volta. Purificar.    Em mim, sempre deu um friosinho na barriga. Seja véspera de fim do mundo ou não. Fico aflita, não penso direito, bate uma doidera.
 A sensação de reconstrução em mim  é mesmo muito grande. Seja o calendário uma coisa para facilitar nossa vida ou uma  estratégia capitalista para parcelarmos  as compras, seja o que for, funciona comigo. Eu tento fazer um ano melhor  do que o outro. Eu tento completar metas. Não quer dizer que eu sempre consiga.
  Ano passado teve um abraço triplo e um abraço em uma latinha de cerveja gigante. No outro ano teve um banho de mar que lavou a alma. Antes disso teve uma fogueira sem fogo e carinhas de batata que (juro) falavam. E antes ainda, eu deu oi e tchau a um quase amor intenso e passageiro. A passagem em si, a virada, é sempre um dia impar pra mim. Um divisor  de águas, uma abertura de portões, de encruzilhadas. Um caminho.
  Nesse final de ano, eu mesma decidi dar uma virada na minha vida. Isso mesmo. Nada de destino, acaso, nada. Eu mesmo sendo protagonista da minha humilde história e fazendo ou desfazendo certas coisas. O que significa mais pressão sobre mim, mas frio, mas loucura, mais listas e mais expectativas.
  Sim, eu não penso direito no final do ano. Tudo é uma grande confusão maravilhosa. Por isso não postei texto na terça.  Por isso o meu vem hoje, no dia errado,  entre dedos tremidos que não veem a hora de se agitarem pelo ar e abraçar  mil pessoas, conhecidos ou não, enquanto os pés ficam na areia e a cabeça no céu!