Meu pai e o feminismo

Saí da desconferência sobre feminismo com aquele pensamento martelando. Tantas meninas controladas por seus pais ou irmãos, tantas mulheres controladas por alguma figura masculina que se acha no direito. Não consigo engolir isso. Quando ouço falar de irmãos que querem controlar a vida amorosa e sexual das irmãs já me da um frio na espinha. E quanto a minha família, posso dizer que eu já discuti muito com meu pai. Na verdade, discuto quase todos os dias. Dois teimosos.

Vou mentir se eu disser que meu pai nunca controlou minha roupa. Uma dia eu queria comprar um short e ele achou horrível. Disse que parecia um balão e que aquelas cores juntas ficava muito brega. Meu cabelo, também. Ele queria que eu fizesse mechas azuis, e não loiras, porque loiro todo mundo tinha. E qual era a graça? Ele sempre quer saber onde eu vou. Sempre. Ele acha ridículo pagar 50 reais para entrar em uma boate sendo que tem rock de graça em algum lugar. Na hora de chegar então, nem se fala. Pra ele, é sempre melhor que eu durma na casa de alguém que mora mais perto do que voltar de madrugada. Nos meus relacionamentos, ele também tentou. Segundo ele, tem vezes que o homem é tímido, e você tem que "chegar" se não nada acontece. Quando eu resolvi fazer Rádio e Tv, ele logo avisou: "Nem sei direito o  que é isso, mas te apoio. Agora, não vai trabalhar naquela bosta de Gazeta não, hein?".

E assim nós seguimos discutindo. Sobre "Paul ou John",  filmes antigos, lugares para sair e, muitas vezes, sobre feminismo. Que ele nunca leu sobre, muitas vezes, confunde tudo e eu tenho que dar uns puxões de orelha, mas que já deu para aprender o básico.

Ele é meu pai e não meu dono. Ele não me controla, ele me ama.
E isso muda tudo.