Aquela Blusa Rosa

Procurei em todos os cantos. Gavetas, armários, caixas, em baixo da cama. Era uma despedida quando eu a usei primeira vez. Uma blusa rosa de botão que lembrava outra época, embora fosse nova. A blusa tinha cheiro de nostalgia e, ao mesmo tempo, tinha o frescor da boa notícia. Não acho que ele se lembraria da blusa. Na verdade, tinha sérias dúvidas de que ele tinha entendido que aquela tinha sido uma despedida.

Encontrei, junto à blusa de “formandos” e ao uniforme de escola, um pôster de banda. De fato, a blusa era tão velha quanto àquelas memórias. Decidi que ia usar como uma homenagem, como um lembrete. Hoje não era uma despedida, era uma chegada.

Fui ao encontro dele me sentindo incomodada. A blusa apertava, os botões pareciam estar meio frouxos, coisa de roupa velha. Não troquei a blusa, fui com ela. Quando encasqueto com uma coisa, não há nada que me tire da cabeça. Eu tinha encasquetado com aquele sujeito. Por mais que os nossos finais sempre devessem ser pontos, eu insistia em colocar dois (ou mais) e seguir adiante. Mesmo que agora os anos tivessem passado com tanta fúria sobre nós.

Quem olhasse para nós no bar, poderia imaginar que se tratavam de dois desconhecidos que se encontravam pela primeira vez. Embora as conversas de outrora estivessem presentes, em algumas horas - eu juro pra você - que parecia que falávamos línguas diferentes. E a blusa continuava e me incomodar.

Eu tentava, com artimanhas narrativas, levar o rumo da prosa para outro lugar. Queria me lembrar daquele que tinha me feito voltar tantas vezes. Mas, por mais que eu vasculhasse, ele não estava. Deus do céu! Eu precisava de ar. E fui. Entrei no banheiro e puxei o ar com toda força e os olhos apertados.

Me encarei no espelho e foi com surpresa e pesar que o observei que a blusa, enigma e lembrete, não era rosa mais. O tempo tinha desbotado sua cor sofisticada, e transformado em um bege qualquer.

Algumas coisas simplesmente desbotam. E uma mera lembrança não consegue sustentar.