Samambaia chorona


Eu sei que ando arrumando confusão à beça, brigando por qualquer coisa e me espalhando por aí. Eu pareço uma fogueirinha querendo encandear tudo. Mas fogueirinha eu não sei ser, meu bem. Eu faço é incêndio até eu mesma virar pó e arrumar um jeito de me reinventar. Eu te chacoalho inteiro para ver se você presta atenção em mim, eu quero ser vista por você. E essa solidão aqui dentro está acabando com meu sistema imunológico e meu afeto que só faz transbordar. Então, eu arrumo confusão, faço rebuliço, fico girando feito cigana tonta, arrumo quiprocó. Eu me agito como as moléculas de água dentro da panela quente. Você diz que eu tenho mania de fugir, mas diz isso porque ainda não me viu entrar em ebulição. Eu insisto, brigo, entorno o copo, fico de ressaca, mas juro que me dissipo também. Eu fiz quase tudo certo dessa vez, deixei carta de recomendação e manual de instrução. Você nem leu, você não sabe me ler. Eu que sou só desejo, só vontade, só erupção, estou sem ter onde me espalhar. Você me vira às costas. Por isso eu brigo. Eu baixo a guarda e você vem ser falador de promessa. Desenha planos e eu acredito em você. Eu não tenho nada de leão no meu mapa astral, mas gosto também de ser espetáculo na vida das pessoas. Você diz que agora é tempo de se preservar para o futuro, mas o futuro não existe, amor. Eu te quero agora. Eu te quero o tempo todo. Sou mesmo dessas de excesso. Sou dessas que peca pelo exagero. Mas eu juro, eu sou um pecado gostoso. Não me venha com essa de me provar com uma colher de chá. Sem gula não dá.

Maria Gabriela Veridiano é escritora, colaboradora da Obvious Magazine e é do mundo das Letras. Quem a vê logo percebe, é sempre meio assim, meio fogo, meio gasolina.