Holofote


Juane Vaillant

Quando pequena, foi ao teatro com sua irmã mais velha. Para a irmã, era só um pretexto para encontrar com o namoradinho. Para Aurora, uma revolução. Tudo impressionou a pequenina. O som, as pessoas concentradas, os atores e as luzes. Sim, ela amou as luzes. Eles decidiam quem era visto. O que era importante.

Decidiu comprar um Holofote para si. Um bem grande. Pediu um aos pais, de presente de aniversário. Eles pesquisaram, tentaram, voltaram. Nada era satisfatório.  A mãe então, pensou na solução. Disse para Aurora: “Filha querida, encontramos algo bem melhor. É um holofote invisível. Ele vai ficar aqui, em cima da sua cabeça. E basta você piscar três vezes que ele vai acender. Você não pode ver a luz, porque ela está de cima. Mas todo mundo pode ver. Alias, quando estiver ligada, ninguém conseguirá tirar os olhos de você.” Aurora adorou!

Embora algumas pessoas dissessem que o que era invisível não existia, todos viam seus argumentos caírem por terra quando aurora piscava os olhos e depois sorria. Andando pela escola, pracinha ou casa dos amigos... Era notável que alguma coisa tinha. Um quê de estrela, um quê de rainha. Ela brilhava e iluminava o ambiente. Não olhar era difícil, realmente.

Foi crescendo e percebia, que a luz as vezes atrapalhava. É que Aurora as vezes, não conseguia desligar. Em lugares mais calmos ou tristes, ela era tão vivível, que não era bem vista. Tinha que apagar. Alguns garotos que passavam por sua vida, também não conseguiam lidar. Eles eram muito banquinho-e-violão e ela era um espetáculo com gelo seco e telão. Mesmo que nem sempre entendesse de cara, seu holofote era seu presente mais querido, e sem ele, ela pouco teria conseguido da vida. Continuava.

É claro que em um palco ela foi parar. Era o caminho certo, não tinha como negar. Os críticos diziam, que, não sabiam como, mas mesmo quando não havia luz, ela reluzia. O palco parecia até pequeno. O teatro parecia quente. Seu nome e sua luz ultrapassavam seu corpo.

Eu conheci Aurora muito tempo depois. Ela não estava no palco, estava sentada ao meu lado. Eu sabia que ela tinha criado aquele espetáculo. Ela agitava os braços, sorria, cantava junto.Mas não estava em cima do palco. Era belo e era triste. Quem estava perto dela, vez ou outra, lançava um olhar. Era inevitável, embora bem menos constante do que outrora.


Por uns segundos pensei que a bateria tão longa do holofote tinha enfim chegado ao fim. Mas olhei mais atenta. Estava ali. Era um outro tipo de luz, guardada para poucos. Não em cima da cabeça, mas dentro dos seus olhos. Sorri.