Sorrateiro


Ele não é meu. Eu nunca tive essa pretensão. Na verdade, quando o conheci, fiz de tudo para me afastar. Achava que era treta. Sabia, porque eu já tinha passado por outras. E é mesmo, mas de um jeito bom.

Ele sempre vem sorrateiro. Nunca avisa muito, mas faz questão de perceber se é bem vindo. Às vezes, ele fica muito. Enrola, dorme. Outras, ele só quer mesmo um cheiro, uma agarro. E vai embora tão silenciosamente quanto chegou.

É o rei de me fazer sorrir quando tudo me falta. Já chorei mágoas com ele. E ele comigo. Isso só fortalece. Ele ouviu alguns dos meus piores medos e maiores segredos.Não conta pra ninguém. Como eu disse, ele é discreto.

Às vezes, sinto que somos de mundos diferentes, mas que, de uma forma complexa e engraçada, nos entendemos bem. Ele consegue me decifrar. Minhas pequenas formas de demonstrar interesse ou afeto. As formas que outros, mais experientes ou conscientes que ele deixam passar. Os meus olhos fechados quando quero chorar, ele percebe. Não sei como ele aprendeu tanto sobre mim, mas tenho um pequeno palpite. Ele quer. Ele quer me agradar, se importa e isso muda tudo.

Não diria que ele é perfeito. Nossa, como ele me irrita. Quando acha que sabe de tudo, quando me desafia, quando me deixa de lado. Quando não faz o que eu quero. Mas eu tive que aceitar suas individualidades, deixar ele ser livre, para que fosse pleno. Ele voar, para voltar para casa. E ele volta, porque sabe que pode partir. Que não tem amarras, que não tem cobranças. Só carinho, só saudades. Amor.

Poderia ser o relacionamento ideal e talvez seja. Mas o Snoopy… Ele é um cachorro. E é da minha irmã. E talvez isso seja a única barreira entre nós.