De repente, Mônica


"Eu não nasci pra ser Mônica", ela dizia. Dizia sempre que podia. "Sabe a Mônica? Da música do Legião Urbana?". Não era ela. Queixava-se, inflada, imaginando ter que aguentar um "Eduardo" em sua vida. Ela se imaginava: formada, bem sucedida, independente, tudo o que sempre sonhou e, de repente, apaixonada por um rapaz, um menino, um moleque que ficava jogando futebol de botão com seu avô.

- Quero dizer, pra mim, as pessoas precisam ser um pouco parecidas em suas rotinas, em como veem a vida - franzia os olhos ao falar, o que a deixava com uma aparência tão segura de si que nenhuma de suas amigas e nenhum de seus amigos, jamais, ousou questionar.

Acontece que o que ela sabia sobre o amor era apenas teoria. Ela condicionava a sua própria imaginação. Observadora, olhava os amores de suas amigas e pensava, pensava muito, em como teria agido. O que teria dito. O que não teria dito. E assim, de reflexão em reflexão, tornou-se uma estudiosa do amor.

Era ela quem procuravam quando queriam conselhos amorosos. Tudo o que ela dizia parecia funcionar. Pesquisadora dedicada, ela conseguia ter um olhar compreensivo das situações, imaginando todas as hipóteses e apresentando-as a quem de seu conselho necessitava.

Sentia-se bem por isso. Sentia como se soubesse algo a mais do que as outras pessoas. Por acreditar que não havia nascido para ser Mônica, ela raramente se apaixonava. Quando o fazia, era por uma imagem, uma ideia de alguém que já havia passado por sua vida. Apaixonava-se pelo passado. Por que, lá, as pessoas se tornavam exatamente o que ela queria que fossem.

No presente, não. No presente, ela sempre arranjava qualquer motivo para ter certeza de que não daria certo e acabar com suas efêmeras relações o quanto antes.

Até que, de repente, sem saber como, ela se viu em uma situação irônica. Daquele tipo quando a vida quer te ensinar alguma coisa. Ela disse: "A gente é muito diferente, né?". Ele riu e disse: "Eu sei". Sorriram ambos. Acariciaram-se. E, então, ela falou: "Mas não tem problema não" e o beijou.

Pronto. Mais Mônica do que isso não tinha como ser.

"Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer Que não existe razão?"