Da loucura em tribunais inquisitórios

Eu acredito que o não te mata, simplesmente te deixa... mais estranho
(Batman - O cavaleiro das trevas)
Às vezes, eu não caibo na minha própria loucura. Então, eu transbordo. Eu fujo. Eu me refugio na loucura alheia. Acampo nas centenas de risadas fora de hora dadas. Me ancoro em quem ri de si mesmo, em quem dança sozinho e grita quando quer gritar. Em quem luta, mesmo sem notar, para poder ser quem é, para poder viver em paz com a sua própria loucura.

Os anos atrás me prenderam em alguns tribunais. Inquisitórios. Eu era presa fácil. Dançando nua pela floresta. Acuada com todos aqueles dedos apontados, com aquela luz que quase me cegava. Que me cegou. Chorava, tentava fugir. Culpada, pedia perdão. Quantas vezes fossem necessárias. E, assim, dava continuidade ao meu ritual quase masoquista.

Foi então que, como um relâmpago, me vi protagonista de uma música da Rita Lee. Resolvi mudar e assumi, corajosamente, minha própria loucura. Vesti a camisa, deixei a carapuça servir. E todos aqueles "você é louca" começaram a fazer sentido de uma forma tão impressionante que só me restou uma saída.

A partir daí, decidi assumir minha culpa. Passei a rir dos meus próprios erros, a me preocupar menos com o que achavam dos meus exageros. Aceitei minha sentença. Culpada pelo crime da loucura. A sanção foi dada e eu, sem a mínima vontade de me reinserir na sociedade, saí do armário da insanidade e do falso moralismo para, enfim, poder ser loucamente feliz.