Na praça de alimentação


Vocês podem repetir centenas de vezes que shopping é o centro do consumo, o símbolo do capitalismo, porque é mesmo, afinal. Mas sabe a praça de alimentação? É, a praça de alimentação. Já repararam nela? Dei por mim que aquilo lá é um grandioso ponto de encontro. Entre conhecidos e, claro, desconhecidos, já que na hora do rush a gente corre pra sentar em qualquer lugar que esteja vazio.

Era segunda-feira, quase noite. Tinha saído do trabalho e, naquela fome insana de final de expediente, fui comer no japonês - como a gente costuma dizer. Sushi, sashimi, camarão, camarão e mais camarão. Nem tudo me parecia, de fato, comida oriental, mas estava surpreendentemente delicioso. E aí que no suco de laranja que levei à boca, decidi começar aquela brincadeira de adivinhar a conversa, os contextos e as intenções das outras pessoas. Só que não era a hora do rush e as mesas estavam vazias. Foi quando olhei para a varanda, da área de fumantes, e vi duas senhoras.

Uma era mais tímida e estava de costas pra mim. A outra, ria um riso bonito e escandaloso, que considerei quase vulgar. Eram amigas há tanto tempo que, quando perguntavam, elas diziam: "Ah, nos conhecemos há décadas", para tentar disfarçar a memória que já começava a falhar. Eram, mesmo, amigas - no sentido mais sincero da palavra. Já perderam as chaves juntas e viraram noites na mesa do bar. Foram chamadas de putas, histéricas, insensatas... Inconsequentes! Ora, mas por quê? Que mal há em duas moças se divertindo na noite carioca? E riam, sorriam, gargalhavam relembrando o passado que parecia não ter demorado a passar.

Acobertaram as mentiras uma da outra, falando que iam estudar, fazer o exercício daquele tal professor. Mas, na verdade, passavam o dia todo com seus namoradinhos - era assim que falavam. Quando estavam juntas, era como se o tempo não passasse. Como se fosse só aquele momento, a alegria, o desejo de estar bem, de querer o bem.

E ali, naquela praça de alimentação, daquele shopping, passaram a tarde inteira contando e recontando suas histórias, como se os 20 e poucos anos nunca tivessem sonhado em ir embora.